Um bonde chamado Gilda

Era uma vez um bonde, um veículo importado, tão chique, que tinha calefação, estofamento refinado, portas centrais, e que tinha acabado de chegar a São Paulo. Na metrópole, o bonde freqüentava os melhores lugares. De tão refinado gosto, que logo foi associado a um filme de grande sucesso na época: Gilda. Veja um clipe com cenas do filme estrelado por Rita Hayworth:


Em 1968 os bondes deixaram São Paulo, e um a um, foram quase todos destruídos, ficando alguns poucos restantes, com destino a museus e playgrounds. Um desses "Gilda" ficou durante anos no pátio da Colônia de Férias do Sesc em Bertioga. Com o recente sistema de bondes turísticos de Santos, nada mais justo de que fazer esse bonde voltar às ruas e circular nas ruas de Santos.

HISTÓRICO DO BONDE CENTEX "GILDA"

Desenhado pelo Engenheiro Slaughther W. Huff o bonde em Nova York se chamava Huffliner ou simplesmente Huff. Os 75 veiculos (bondes) foram construidos em 1938 pela Third Avenue Railway Company, uma das várias operadoras de bondes em NY. Os Huff em Nova York eram Bi-direcionais, com portas centrais nos dois lados, e como era padrão na epoca o uso do trilho central (terceiro trilho), pois na ocasião a cidade de Nova York não permitia o uso de rede aérea pelas ruas. Circularam em operação na cidade de Nova York somente 10 anos. Em 1948 foram comprados pela CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) de São Paulo, onde circularam até o ano de 1968.
Possui truque duplo de bitola de 1.435 mm. Em São Paulo recebeu alavanca de contato com carretilha para captação da corrente elétrica e deixou de ser bidirecional. Possuía o prefixo 1799.

O NOME CENTEX

Centex vem de "Central Exit", que em português significa Saída Central, ou seja, lá os passageiros entravam pelas portas das da frente ou de trás, e saíam pela porta central. Era então um aviso estampado no bonde, alertando os passageiros.

EM NOVA YORK

Os bondes Centex circularam na Broadway. Lá não havia a "rede aérea" que é como chamamos os fios por onde os bondes (e trólebus) captam a energia elétrica. A alimentação elétrica vinha de um terceiro trilho.

EM SÃO PAULO


Os bondes CENTEX chegaram pelo porto de Santos de onde partiram para São Paulo por vagões de trem, e ostentavam, bem na frente, uma enorme letra B (de Broadway), pintada na lataria. Como foram adquiridos de segunda mão foram tratados pela imprensa paulistana como sucata, um verdadeiro "engodo à população paulistana". Porém os bondes foram recuperados na CMTC e ficaram por cerca de 20 anos servindo os paulistanos.
Os bondes novaiorquinos foram adaptados para o sistema de São Paulo, com a instalação da alavanca de captação de energia elétrica conectada à rede aérea unifilar. Foram mantidos os bancos originais em palhinha (em vez dos bancos de madeira dos outros bondes), e detalhes originais. Circulou em diversas linhas, como a 28 - Vila Madalena, 29 - Pinheiros ,19 - Perdizes, 28 - Pinheiros, 35 - Lapa, 36 - Av. Angélica, Casa Verde, Canindé e 75 - Vila Mariana.

Após a extinção dos bondes paulistanos, depois de alguns anos o bonde ficou parado num jardim do Sesc em Bertioga. Em 2007 o Sesc o doou para a prefeitura santista.


EM SANTOS

Após a doação do bonde feita pelo Sesc à Prefeitura de Santos, eu tive a oportunidade de ver de perto do bonde nas oficinas da antiga Cia. City / SMTC / CSTC, na Vila Matias em Santos. Certamente quem andou nesses bondes em São Paulo, cujo serviço na cidade foi feito durante 20 anos, vai relembrar de como era o bonde Gilda, já que foram preservadas as características originais.

Vejam as fotos:

O BONDE GILDA TIPO CENTEX NA GARAGEM DA ANTIGA CSTC



COMANDO DO BONDE COM A PLAQUETA DE ORIENTAÇÃO AO MOTORNEIRO


DETALHE DA PLACA DE ORIENTAÇÃO AO MOTORNEIRO:

"MOTORNEIRO! SI O INTERRUPTOR SE DESLIGA REPETIDAMENTE, ISSO INDICA GRAVES AVARIAS NOS MOTORES. O MOTORNEIRO DEVE PARAR O CARRO, DESLIGAR O INTERRUPTOR, ABRIR A TAMPA DO CONTROLLER E ISOLAR O MOTOR DEFEITUOSO, CONFORME AS INSTRUCÇÕES DENTRO DA CAIXA DO CONTROLLER."

ESTOFAMENTO EM PALHINHA - UM LUXO VINDO DOS EUA


PLAQUETA DOS TEMPOS DA CMTC PAULISTANA:

"O MOTORNEIRO CUIDADOSO
NÃO CONVERSA EM SERVIÇO"

DETALHE INTERNO DA PORTA CENTRAL E DO ASSENTO DO COBRADOR:


VISÃO GERAL INTERNA DO BONDE GILDA


ABERTURA DA JANELA DO BONDE


O "TRUCK" DO BONDE, QUE FOI RETIRADO E COLOCADO SOBRE A VALETA DE REPAROS DE BONDES DE SANTOS, ONDE SERÁ ADAPTADO AOS TRILHOS UTILIZADOS NO SISTEMA TURÍSTICO DE SANTOS.
DETALHE: ESTÁ NO MESMO LOCAL ONDE SE FAZIAM REPAROS E ATÉ SE CONSTRUÍAM BONDES NAS OFICINAS DA CITY DE SANTOS (CITY OF SANTOS IMPROVEMENTS COMPANY) E DEPOIS SMTC (SERVIÇO MUNICIPAL DE TRANSPORTES COLETIVOS):


O BANCO "NAMORADEIRA" NOS FUNDOS DO BONDE GILDA


O FUTURO DO BONDE GILDA EM SANTOS

O bonde será recuperado nas oficinas de bonde (as mesmas que construiram e repararam muitos bondes no século XX), e também serão instalados os motores elétricos. O bonde Gilda será colocado em circulação no novo trajeto ampliado do sistema turístico de bondes de Santos, localizado no centro histórico da cidade.
Certamente os paulistanos contemporâneos dos anos dourados dos bondes "Gilda" vão querer novamente fazer esta viagem, desta vez em solo caiçara.
A obra de ampliação da linha de bondes está em andamento, com previsão para operação no final de 2008.


ASSISTA AQUI UM VIDEO PRODUZIDO SOBRE O BONDE GILDA EM SANTOS


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