O sistema de trólebus de Santos está prestes a completar 49 anos no próximo dia 12 de agosto. Atualmente há apenas uma linha em operação na cidade, com seis veículos que circulam em esquema de revezamento, ou seja, no máximo 3 elétricos operam, por dia.
A inauguração da primeira linha de trólebus de Santos, em 12 de agosto de 1963 (Foto: A Tribuna) |
Mas, isso já foi bem diferente. Para o então chamado "Serviço de Troleibus de Santos", a prefeitura importou 50 ônibus elétricos da FIAT italiana. Para tal feito, até mesmo o então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, em visita à cidade assinou a liberação da importação, em 1958.
A cidade de Santos contava na época com ônibus e bondes, estes populares e que, além de cobrir os bairros santistas também fazia a ligação com a vizinha São Vicente. Os bondes, é importante ressaltar, chegavam aonde veículos e ônibus comuns não chegavam, e vinham abrindo novos caminhos pela Santos - repleta de mangues - desde 1871, na versão puxada a burros e, depois em 1909, com a tração elétrica.
Seguindo exemplos de outras cidades, à começar por São Paulo, surgiu a ideia da implantação dos trólebus em Santos, afinal esse tipo de veículo seria uma mistura de ônibus com bonde.
A CHEGADA DOS PRIMEIROS TRÓLEBUS
Da licitação até a chegada dos primeiros trólebus em Santos foram cerca de 8 anos de muitos entraves, como as primeiras crises do S.M.T.C. (Serviço Municipal de Transportes Coletivos), e as dificuldades com o crédito para a compra dos veículos e dos equipamentos, como rede aérea (fiação) e subestações de energia.
Os trólebus de Santos eram modelos semelhantes aos que já haviam sido implantados em 1962 na cidade do Rio de Janeiro e em 1959 em Salvador, isso em termos de Brasil. Também eram semelhantes aos de outras cidades da América Latina, como Rosário, na Argentina.
Os cinco primeiros trólebus receberam incentivos alfandegários. Já os demais... |
No dia 06 de junho de 1963, chegaram ao porto de Santos os cinco primeiros veículos. Pouco mais de dois meses depois, foi inaugurada a linha 5. À título de boas vindas, a Alfândega de Santos concedeu isenções a estes 5 exemplares. Os demais 45 chegaram a ficar por cerca de um ano, ao relento, para serem "desembaraçados".
Por isso, as demais linhas demoraram para serem entregues, devido a entraves alfandegários. Foram inauguradas as linhas 53 (em 1964), a 54 (em 1964) e a 8 (em 1966). Somente em 1967 é que os 50 trólebus puderam ser aproveitados por completo - com a implantação da linha-tronco da avenida Conselheiro Nébias, possibilitando a inauguração das linhas 45, 44, 4 e 40, nesta sequência, naquele ano.
Inauguração da linha 8 em 1966, na gestão do prefetio Sílvio Fernandes Lopes (foto A TRIBUNA) |
OS TRÓLEBUS FIAT DE SANTOS: VIDA E SOBREVIDA
O prefeito Osvaldo Justo (à direita) era entusiasta pelos trólebus de Santos |
Diferentemente dos ônibus comuns (movidos à diesel), os trólebus - assim como os bondes - tem vida longa. Os 50 trólebus italianos importados pela prefeitura santista operaram de 1963 até 1979, originais de fábrica.
No final dos anos 1970 o governo federal implantou a E.B.T.U. (Empresa Brasileira de Transportes Urbanos), que visava melhorar as condições de transportes coletivos e suas vias em todo o Brasil. Com isso, foram implantados sistemas de trólebus em diversas cidades, e Santos entrou nesse projeto com a revitalização dos trólebus, aquisição de ônibus e melhorias nas vias públicas por onde trafegavam os coletivos.
Trólebus reformado nas oficinas da C.S.T.C., com as cores do padrão E.B.T.U. |
Nesse plano, dos 50 trólebus FIAT, restavam 25 veículos que foram completamente reformados e também foram adquiridos mais 7 veículos novos, na gestão do prefeito Paulo Gomes Barbosa, que manteve em operação as linhas 4, 5 e 8.
Trólebus nacional Marcopolo, adquirido na gestão Paulo Gomes Barbosa, com verbas da E.B.T.U. |
Na gestão seguinte, do prefeito Osvaldo Justo (1984-1988). foram reativadas linhas anteriormente extintas, como a 40, 44 e a 53, possibilitadas com a implantação de novas rede aéreas, evitando os trólebus na contramão. Também no governo Justo foram adquiridos mais 6 trólebus novos, fabricados pela empresa Mafersa, cuja implantação deu-se em 26 de janeiro de 1988 e com eles foi eletrificada a linha 20 de trólebus, antes servida por ônibus a diesel.
Justamente esta linha e estes 6 trólebus são os que estão em operação hoje em Santos. Justo chegou a iniciar a expansão dos trólebus para a Zona Noroeste, e tinha projetos com trólebus em linhas expressas, inclusive utilizando o Túnel Rubens Ferreira Martins.
Em foto do início dos anos 1990, trólebus italiano FIAT seguido de um trólebus nacional Mafersa |
Mas o projeto foi descontinuado por sua sucessora, a prefeita Telma de Souza. E o sucessor desta, David Capistrano decidiu pela quase extinção do sistema, relegando os trólebus a apenas uma linha.
Trólebus do atual sistema de Santos, em operação em apenas uma linha |
Os prefeitos seguintes, Beto Mansur e João Paulo Tavares Papa, mantiveram o sistema, sem qualquer expansão.
50 ANOS DEPOIS, VENDE-SE NOVAMENTE UM FIAT
Em 1996, na gestão do prefeito David Capistrano, todos os trólebus FIAT que existiam no sistema de Santos foram destinados a um leilão. O desinteresse daquele governo no histórico sistema de trólebus de Santos relegou a cidade a apenas duas linhas, que também eram mescladas com ônibus à diesel. Para agravar mais a história, os veículos - que custaram muito aos cofres santistas - foram vendidos como sucata, mesmo com vários deles em condições do operação.
Com isso, os trólebus FIAT foram adquiridos por ferro velhos, e alguns deles, após a aquisição, chegaram a ser vistos em São Vicente, em terreno da Cidade Náutica, apodrecendo.
Alguns anos depois, um desses trólebus foi adquirido por um proprietário de uma chácara, na cidade de Conchal, utilizada para eventos, como uma das atrações (há até mesmo um avião nas instalações).
Print da página do Mercado Livre, com o anúncio, obtida em 01.07.2012, encontrado em pesquisas por Werter de Jesus |
Em 2004, no site Toffobus, especializado em transportes urbanos, foi publicada uma foto desse então trólebus perdido em meio às sucatas, o que causou grande surpresa entre os aficionados. Na época o site funcionava como um precursor das comunidades sociais da Internet.
Com o passar dos anos, pouco se soube sobre o veículo.
Porém em 30 de junho, Werter de Jesus, pesquisador sobre trólebus e bondes de Santos, encontrou um anúncio no Mercado Livre, site destinado a vendas pela internet, onde estava à venda o referido trólebus FIAT. O pesquisador informou o fato em seu site e nas comunidades sociais e também ao jornal A Tribuna que publicou matéria com o anúncio da venda do Trólebus de Conchal.
O próprio jornal, em contato com o vendedor obteve as informações sobre a aquisição do veículo pela chácara. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) alegou não haver interesse na aquisição do veículo "pelo péssimo estado de conservação". No entanto, faltou a visão histórica do veículo, que completa 50 anos de fabricação este ano. Tal como os diversos bondes que foram adquiridos pela prefeitura nos últimos anos - a maioria em estado muito pior de conservação, o trólebus deveria ser incorporado á frota do sistema turístico e histórico de bondes - e trólebus.
Há alguns anos, a prefeitura de Santos anunciou a criação de linha turística de trólebus, que traria turistas da região da orla santista até o centro da cidade, onde circulam os bondes. Tal ideia não foi adiante.
ROSÁRIO, ARGENTINA: UM EXEMPLO PARA SANTOS
Anúncio da inauguração da linha "K" em Rosario, Argentina: exemplo para Santos |
Em 2011, a cidade argentina de Rosario, reativou um trólebus FIAT, muito semelhante aos de Santos. O veículo, que circulou comercialmente na cidade de 1961 até 1984, foi recuperado e hoje circula na cidade, em eventos e em circuito histórico. Para tanto foi necessário muita mobilização e organização da Associação Rosarina Amigos del Riel (A.R.A.R, - no caso Riel é o termo utilizado em português para Ferroviário). A A.R.A.R solicitou o veículo para reserva histórica em 1984, logo depois de sua desativação comercial. Foi feita uma paciente aquisição de peças de reposição durante anos, e após sucessivos mandatos municipais e até mesmo saques e vandalismos, finalmente em 2005 a empresa de transportes coletivos de Rosario mostrou o interesse para reformar e reativar o antigo trólebus. Foram anos de muita pesquisa e perserverança, o que resultou num belo presente histórico para a cidade.
O FUTURO INCERTO DE DOIS "FIAT'S"
Obviamente o valor histórico do antigo FIAT de Conchal é inestimável. Afinal, este veículo circulou na cidade de 1963 até 1996, em linhas que cortavam a avenida Conselheiro Nébias e Epitácio Pessoa, entre outras, e marcaram a história do transporte coletivo da cidade.
Assim como foram tão poucos bondes que sobraram do sistema extinto em 1971, e de tão difícil recuperação, mas qye tiveram uma repercussão em nível mundial bastante positiva para Santos.
Atualmente em Santos já há o clima de eleições municipais, o que de momento dificulta qualquer negociação a respeito. Por outro lado, os candidatos - tanto para o executivo, como para o legislativo - devem ser questionados a respeito de uma possível aquisição dessa relíquia pelo município.
Trólebus FIAT que está nas dependências da atual CET |
Por outro lado, vale lembrar que há anos encontra-se nas dependências da antiga garagem de trólebus (atual CET), um outro trólebus FIAT - na verdade o que restou dele. Esse outro FIAT de certa forma escapou do leilão de 1996 por ter servido de biblioteca volante. Após ter ficado durante anos no pátio da Gota de Leite, associação filantrópica de Santos, o que restou daquele FIAT está há anos mudando de galpão para galpão, cada vez mais deteriorado.
Havendo vontade política e busca por patrocínio os dois FIAT's de Santos poderiam ser reformados, e se não puderem circular, poderiam a princípio ser expostos no Museu Vivo dos Bondes, que está em implantação no antigo armazém do porto de Santos, no Valongo.
Leia mais:
BLOG CONSCIENTIZAÇÃO
MUITOBEM: TROLEBUS FIAT EM ROSARIO
MUITOBEM: TRÓLEBUS DE SANTOS, 48 ANOS DE HISTÓRIA
Oi Emílio!
ResponderExcluirPra variar parece que sempre vamos na contramão...justamente nestes tempos em que se procura alternativa ao uso do petróleo (diesel/gasolina) a cidade poderia reativar os trólebus, mas falta vontade política.
Eles podem até dizer que eles eram muito pesados, uns "trambolhões" como já disseram,que eram lentos, que davam muito problema com os cabos etc.Mas eram de energia limpa, bem melhor do que esses onibus de hoje que soltam aquela fumaça preta.
Sinto saudade dos trolebus.
Parabéns pelo post!
abraços, Renata
palpitandoemtudo
Renata, brigado põr seu comentário.
ResponderExcluirVale lembrar que Santos continua com uma linha operada por Trolebus, linha 20 (Ana Costa).
Os problemas do Trolebus são devido a falta de manutenção, tanto da fiação como dos veículos.
Também é importante ressaltar que São Paulo conta com cerca de 200 Trolebus em operacao.